segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mentira-verdade e vice-versa

Uma mentira dita repetidas vezes acaba tornando-se verdade. Cabe a nós sabermos que essa “verdade” cretinamente construída  não passa de uma tentativa baixa de nos desinformar. Gravem essa palavra: DESINFORMAR.  Pensem: quem tem a função da informação dentro de uma sociedade democrática? Se “os meios de comunicação” foi a resposta, está correto. A mídia? Também está correto. Entretanto, quem nos desinforma? A mídia? Os meios de comunicação? Sim. A desinformação não nasce conosco: saber nada não significa saber errado. Desinformar não é a mesma coisa de não informar; é apenas informar erroneamente, intencionalmente ou não.
Em tempos de eleição, vemos os políticos tentando de tudo um pouco para serem eleitos. Compra de voto, apelações emotivas, e MENTIRAS. A eleição presidencial, principalmente na reta final para o primeiro turno e durante a presente campanha do segundo, esteve repleta de calúnias. Tudo por mais um voto. O aborto, uma questão de saúde pública, foi levado por um cunho apelativo religioso, com a intenção de ganhar os votos dos cristãos. José Serra, do PSDB, disse ser contra o ato abortivo. Mas há alguns anos, o mesmo regulamentou o aborto no SUS – em caso de violência sexual, em até 20 semanas – e causou revolta na Igreja Católica. Ser a favor do aborto é louvável. Mudar o discurso só para ganhar voto é que é baixo, mesquinho, desprezível. Porém, a mídia tem seu papel. Sobre esse caso, foi divulgado em um dos principais jornais brasileiros que a mulher do candidato teria abortado, com a tentativa de criminalizá-lo. Me digam vocês, qual a contribuição que um boato como esse dá à democracia de um país? Benéfica, nenhuma. Contribui apenas para a desinformação, para a cretinice da campanha eleitoral e da formação de opinião pública, desviando o verdadeiro foco do interesse real de um processo eleitoral democrático. Vejamos, agora, a mídia agindo sobre o outro lado da moeda.
Perguntem a qualquer pessoa que passa na rua quem é Dilma Rousseff. Provavelmente, pelo menos algumas serão do tipo: “é uma mulher despreparada”; e nos casos mais extremos, mas um tanto quanto freqüentes “assassina, ditadora”. De onde vem essa idéia? Além das propagandas eleitorais, que algumas vezes jogam baixo, tanto de um lado (PT) quanto de outro (PSDB), existe a legitimação dada pela mídia, ainda que de uma forma indireta. Por exemplo: uma edição da revista ÉPOCA, antes do primeiro turno, estampava na capa “O Passado de Dilma”: a reportagem remetia à participação da candidata em organizações armadas contra a ditadura. A mídia, nesse caso, não tenta explicar os motivos pelos quais a atual candidata agiu de uma forma ou de outra. A tentativa é criminalizar e dizer “o passado que Dilma tenta esconder”. É verdade, sim, que a estratégia do PT é esconder esse fato. Mas, ao meu ver, apesar de não gostar da tecnicidade exacerbada das campanhas eleitorais, direcionadas por marketeiros, esconder esse fato é por saber que o tal não seria bem aceito pela população – lutar contra a ditadura é motivo de orgulho, mas boa parte da população recriminaria pelo caráter “armado” da revolta em que Dilma teria participado. O que a revista procura fazer é colocar Dilma num patamar de criminosa. Um claro descompromisso com a verdade. Em um caso, o levantamento de fatos irrelevantes e prejudiciais à formação da opinião pública. Noutro, a irresponsabilidade e inconseqüência jornalísticas.
Sobretudo, neste breve texto, não tento abordar ideologias políticas, partidárias, ou quaisquer que sejam. Tento, portanto, dizer que nem tudo que vemos e lemos é cru: em muitas das vezes, há algo por trás; em muitas da vezes, há irresponsabilidade jornalística. Logo, o que podemos fazer para não cairmos nas mentiras que se tornam “verdade”? Na minha mera opinião, estimular o senso crítico é a solução. Pergunte-se “por que?” com a mesma freqüência com que você pisca o olho. Não gastemos nosso tempo acreditando em inverdades.


                                                                                                 Por Vitor Bahia

PS.: hoje tem debate dos presidenciáveis na Rede Record - discutir política faz bem e é necessário

3 comentários:

  1. Tem um doc. massa sobre esse tema de midia "Orwell Rolls in his Grave" analisa os estates, mas cabe muito pro BraZil tbm pois a midinha grande daqui segue a mesma linha.

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  2. Esse texto cabe muito bem na temática que se tornou recorrente nos últimos tempos onde a grande mídia volta e meia acusa o governo de tentar cercear a liberdade de expressão, porem devemos nos perguntar:
    Existe liberdade de imprensa num ambiente onde a mídia é oligopolizada?
    A meu ver a resposta é não. Deve-se ver que a imprensa deixou de ter o papel apenas de informar para, no caso brasileiro, assumir uma postura de um quarto poder, em soma aos três poderes tradicionais da republica. Algo que torna o fato do processo de desinformação mais claro de ser entendido em termos teóricos ou até mesmo práticos.

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  3. Por que? essa é a palavra! Bom texto, parabéns pelo blog.

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